Um simples micróbio encontrado no fundo do inóspito Lago Mono, na Califórnia, reacendeu o debate popular sobre a hipótese extraterrestre (HET)
Quando deparei-me com a obra Impérios da crença de Stuart Sim, na qual ele defende a ideia de que é preciso mais ceticismo no século 21, confesso que se ficasse apenas com a leitura do título teria achado sua tese um tanto excêntrica. Como reza a boa crítica, passei a ler o livro para posteriormente fazer minhas considerações. Interessei-me particularmente pelo tema do capítulo quatro que trata sobre a ciência e a tecnologia como sistemas de crenças, e achei interessante quando o autor disse inicialmente que ambas “assumiram em tempos recentes as dimensões de sistemas de crenças, e cada vez mais definem a pauta do modo como nossa cultura se desenvolve” (p.95). Não que isso seja novidade, pois há pouco mais de uma década li a respeito do assunto na obra E agora, como viveremos?, de Charles Colson e Nancy Pearcey. Falando acerca da “reforma da ciência” e do “modo como pensamos a realidade”, os autores afirmam que a “ciência afeta toda a nossa visão de mundo — não só as idéias sobre a religião e a ética, mas também sobre a arte, a música e a cultura popular” (p.506). Assim, não é especificamente esta informação que fez com que passasse a ler a obra, mas o modo como ele iniciou o assunto foi o que despertou em mim a esperança que uma “voz cética” dissesse aquilo que já se sabe: O compromisso apriorístico dos cientistas ou, melhor dizendo, de grande parte deles, com o naturalismo, tem influenciado o resultado final dos seus experimentos e pesquisas.
Ao explicar que a “maioria de nós [leigos] aceita sua mística”, ou seja, a autoridade científica de maneira praticamente inquestionável, e que “pode-se dizer que a ciência é o paradigma intelectual de nossa era” (p.95), Stuart Sim, que é professor de Teoria Crítica na Universidade de Sunderland (Reino Unido), fez brotar-me uma ponta de expectativa na possibilidade de uma discussão sem preconceitos, que de maneira sóbria e lúcida discorresse sobre os perigos da aceitação acrítica dos postulados científicos. Ao dizer que “a ciência é uma área que se autocontesta regularmente, à medida que as teorias são repetidamente contraditas e que paradigmas específicos são entregues ao esquecimento”, Sim afirma que para “o público em geral isso tudo é muito desnorteador, especialmente dada a aura de autoridade atribuída à ciência” (p.97). Em outras palavras, a instabilidade científica — fator preponderante para o seu desenvolvimento — não satisfaz a sociedade que prefere “certezas acabadas” a “certezas provisórias”. Daí o porquê da tese de Stuart Sim acerca da necessidade de mais dúvida e ceticismo para este século. Ele defende que é “preciso que haja muito mais ceticismo do público em relação ao empreendimento científico — e particularmente em relação ao tecnológico”. Seu “conselho” vai além, pois ao reconhecer que a “crença inquestionável no valor, nos métodos e nos objetivos da ciência é excessivamente prevalecente entre o público em geral, que, usualmente, estende o benefício da dúvida aos praticantes da ciência” (p.97); Sim chama a atenção para um grave perigo: A equiparação das opiniões pessoais dos cientistas com o resultado do exercício do método científico!
O problema maior dessa postura, como afirmou o psicólogo e filósofo cristão, Dallas Willard, no prefácio da obra Ciência, intolerância e fé, de Phillip Johnson: “Para nós hoje, a autoridade é a ciência. A ciência, nos disseram, declara isso ou aquilo. É melhor acreditarmos nisso. Entretanto, a ciência não diz nada. Ela mesma não pode fazer declarações. Somente os cientistas dizem as coisas. E estes podem ser surpreendentemente nada científicos e muitas vezes comentem erros incríveis — como os eventos sempre revelam com o tempo. Além do mais, muitos porta-vozes da ciência não são cientistas ou não possuem qualificações dentro da área em que se pronunciam. Contudo, se conseguem assumir de alguma forma uma aura de ‘científico’, são capazes de racionalizar à vontade e, com isso, ainda encontrar quem os ouça” (p.12). Por isso, Stuart Sim postula que a “ciência tem de ser permanentemente submetida à crítica, caso contrário começa a assumir um status quase religioso que é inimigo da causa do pluralismo — e dos próprios ideais da ciência, deve-se enfatizar, que certamente são dignos de ser defendidos” (p.97).
Apesar da crítica à tecnociência, Stuart Sim questiona mesmo a medicina, o criacionismo, a necessidade dos conflitos darwinianos, o aquecimento global, a ascensão do inumano de Lyotard (o mundo dominado pelas máquinas) e o desígnio inteligente. O professor de Teoria Crítica finaliza o capítulo falando a respeito da “medida” do ceticismo em relação à ciência: “O que se tem argumentado aqui é que os paradigmas assumem muito facilmente o caráter de crenças inquestionáveis, embora isso seja uma distorção da atividade científica e de seus ideais que não deve ser perpetrada — pelos cientistas muito menos que pelas demais pessoas. Aqueles ideais têm de ser preservados; logo, este não é um argumento contra a ciência; antes, dirige-se contra o mau uso da ciência, tanto por parte daqueles que a praticam como por parte de políticos e outras figuras de autoridade fora da esfera científica em si, como modo de obter poder sobre outros. Isso é a ciência como política, servindo aos interesses de uma elite — e é contra essas elites que os céticos sempre se alinharão. O ceticismo é, de fato, do interesse da ciência: sem o temperamento cético, há sempre o risco de que a ciência incida no dogma. A menos que se impeça que os paradigmas suprimam ou mesmo silenciem aqueles que falam contra eles, a menos que novos paradigmas continuem a surgir regularmente, a ciência não estará cumprindo adequadamente sua tarefa. Nem todos que falam contra a ciência têm argumentos a ser levados em consideração — os criacionistas manifestamente não, e as hipóteses do desígnio requerem, no mínimo, um exame muito cuidadoso —, mas todos eles merecem sua oportunidade de questionar a autoridade científica e a mística a ela associada (desde que reconheçam o direito de que possam ser também questionados e o direito de outros de questionar o mesmo paradigma)” (p.131).
Grosso modo, Stuart Sim apresenta argumentos que parecem desprovidos de tendências (como, por exemplo, ao falar que a história da ciência registra “modificações até mais extravagantes [que as do desígnio inteligente] sendo propostas para proteger as teorias, em lugar de alterar a perspectiva e elaborar novas teorias com menos bagagem ideológica”, p.129), mas, infelizmente, ele não é tão cético quanto parece. Primeiramente, sua posição favorável ao darwinismo é escandalosamente clara (p.109). Mesmo tendo apresentado argumentos que parecem reconhecer a desonestidade dos cientistas quando as evidências apontam para uma direção oposta à das suas visões pessoais, Sim revela-se crédulo na existência de algo tão ou mais improvável quanto as oito premissas do modelo RTB (Reason to Believe [razão para crer]), proposto pelo clérigo e teólogo inglês Willian Paley (1743-1805), e tão criticado por ele (pp.126-7). Em meio à crítica do “retorno da hipótese” ou do desígnio inteligente, desenvolvidos pelos cientistas cristãos Fazale Rana e Hugh Ross, que, segundo Stuart Sim, ocorrem na perspectiva ou vertente religiosa, surge uma pequena observação do autor de Impérios da crença, praticamente solta, que revela uma tendência que não combina com ceticismo: “Tudo o que se refere à vida na Terra — e eles não concebem a vida em nenhum outro lugar; nós somos considerados o resultado de um experimento divino único” (p.126, sem grifos no original). Ainda que não de maneira explícita, é possível perceber a crença de Stuart Sim em vida extraterrestre. E é aqui que se inicia a discussão acerca das possibilidades e ficções da fé dos cientistas. Fonte:http://www.cpadnews.com.br/blog/cesarmoises Data: 14/03/2011 10:50
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