Em: 26 de junho de 2012
Harley J. Sims
20 de junho de 2012 (Mercatornet.com) — Parece que a DC e a
Marvel, duas gigantes editoras de HQs controladas pela Time-Warner e pela
Disney, respectivamente, chegaram a um acordo em algo: junho é o Mês Gay no
multiverso. Primeiro veio a revelação por parte da DC de um Lanterna
Verde gay, seguida de um circo midiático de publicidade e especulação
durante todo o mês. Em maio, a DC anunciou que um dos seus super-heróis mais
famosos e antigos em breve sairia do armário. “Seria o Superman gay?” inflamaram
as manchetes.
A parceria de Batman e Robin há muito
tempo é sujeitada a esse tipo de insinuação; poderia essa ser a revelação
final? E, é claro, tem a Mulher Maravilha, a amazona dominadora de quem homem
nenhum ganha em uma queda-de-braço, e tampouco o coração. Como sugere o
tabloide hollywoodiano TMZ, a decisão
da DC de escolher o Lanterna Verde colocou toda a publicidade em uma espécie de
jogo dos copos, considerando que o Lanterna Verde é mais um corpo policial
intergalático do que um indivíduo, e que há mais de 7200 Lanternas Verdes no
grupo. O Lanterna Verde mostrado beijando outro homem no segundo número da
revista Earth 2 da DC na verdade não
é Hal Jordan, o personagem mais associado à franquia, mas uma versão
reinventada de outro homem, Alan Scott (que, no entanto, ao ser introduzido
pela primeira vez em 1940, era casado e pai de dois filhos).
O Lanterna Verde gay é, portanto, é uma reciclagem
de uma reciclagem, um personagem reimaginado de um universo DC reimaginado (que,
como muitos fãs de HQs lhe dirão, é na verdade um multiverso). O novo
personagem, então, é tão afastado do original que apenas Stephen Hawking
poderia teorizar apresentar um ao outro. Quanto à Kate Kane, a atual e lésbica
Batwoman introduzida pela DC com igual alardeio em 2009, seu status periférico sugere
um propósito altamente comercial.
Para não ser superada, a Marvel Comics
irá apresentar seu primeiro casamento gay em Astonishing X-Men número 52,
lançada em 20 de junho. O número, completo com ilustração explícita da
cerimônia e todos os seus convidados coloridos, irá exibir as núpcias do
super-heroi canadense Estrela Polar e seu parceiro civil, Kyle Jinadu.
Não podendo ser acusada de uma simples
debutante, a Marvel pode ampliar sua exibição de temas homossexuais porque
personagens gays já são coisa antiga no seu universo. Embora não tenha o
reconhecimento do Lanterna Verde, o Estrela Polar foi introduzido pela primeira
vez em 1979, e foi retratado como abertamente gay desde 1992, poucos anos
depois que a Associação Americana de Revistas em Quadrinhos derrubou a
proibição desse tipo de conteúdo. Ele é o primeiro de uma série de personagens
que se podem chamar de “não-heterossexuais”, incluindo os bissexuais
transmorfos Mística e Hulkling, assim como pelo menos um humanoide artificial
produto de bioengenharia de uma dimensão conhecida como Mojoverso. O personagem,
cujo nome é Shatterstar, deixou claro para os leitores que é anatomicamente
equipado e sexualmente funcional. Recentemente ele trocou um beijo com o
companheiro de equipe Rictor, um mutante bissexual com a capacidade de gerar
terremotos localizados.
O fato de temas e personagens
homossexuais já existirem nas HQs de super-heróis (há décadas em alguns casos)
pode fazer alguém se perguntar por que essas publicações e suas campanhas estão
acontecendo de novo. Uma resposta talvez esteja no fato de que, em grande
parte, esses personagens estejam sendo tratados como mascotes sociopolíticos, e
não como personagens fictícios. A maioria dos debates sobre sua validade
envolve questões de homossexualismo e casamento gay no mundo real. O
vice-presidente da DC Comics, Bob Wayne, fala da decisão de revelar o
homossexualismo de um dos seus super-heróis como prova de uma perspectiva
evoluída, ecoando
as palavras do presidente Barack Obama, que aprovou o casamento gay. Isso é
uma reversão de uma política definida ainda no ano passado pelo coeditor da DC,
Dan Didio, de que todos os personagens homossexuais seriam novos.
Se a audiência aceita ou não o novo
Lanterna Verde, não há como negar que as palavras de Wayne, assim como as de
Obama, foram ditas para insultar os que não o aprovam. Ele pode ter falado que
a perspectiva estava mudando, desviando-se, ou mesmo se tornando mais
compassiva, mas falar no sentido de evolução, isso é um ataque deliberado;
duplamente, se você considerar que o alvo foi o público cristão.
Se esse tipo de publicidade será boa ou
má para as vendas de HQs e para os movimentos homossexuais, isso é uma questão
que, pela sua complexidade, é muito mais fácil de ignorar. Trata-se da própria
imaginação: aquela atividade extremamente particular responsável pela própria
existência da atração dos super-heróis.
Ao contrário da crença popular, a
literatura (e isso inclui histórias em quadrinhos) não é simplesmente um
conduto pelo qual os autores podem infundir valores nos seus leitores. Ao
contrário, ela é um meio de comunicação cuja importância, qualquer que seja a
intenção do escritor, é moldada em grande parte pelas experiências e posições
atuais do leitor. Não somos escravos do que lemos; um trabalho de literatura
pode, afinal, levar à mudança das crenças pré-existentes de alguém, mas esse
poder não está dentro da literatura mais do que o poder de mudar a realidade
está dentro de um único leitor.
Introduzir personagens gays tais como o
Lanterna Verde pode não “transformar os leitores em gays”, como observaram sarcasticamente
alguns defensores, mas essa introdução também não vai simplesmente cair no
vazio. Por estarem na periferia da cultura pop, revistas de super-heróis não
são tão relevantes, e as razões dadas pelas editoras e pelos escritores para
apresentar personagens gays (as de que são mais como o mundo real, mais atuais,
ou que irão estimular aceitação e mentes mais abertas) não respeitam sequer as
tão modestas limitações do seu tão modesto meio. Embora os leitores de
quadrinhos sejam considerados alternativos (mundos de HQs exploram múltiplas
realidades, e é preciso ter a mente aberta no sentido mais básico para se ter
uma boa imaginação), eles não ficam sem uma identidade própria. Eles podem,
como alegaram as editoras, não ter nada contra o fato de o Lanterna Verde ser
gay, mas não porque estão sendo sugestionados pela DC.
Segundo, e mais importante, a imaginação
é metafísica. A sexualidade, por outro lado, é fundamentalmente física. Embora
a imaginação e a sexualidade possam cooperar de várias formas, demonstrações
sexuais explícitas em HQs continuam sendo um tabu vergonhosamente periférico na
subcultura das HQs; basicamente, uma nerdice entre os nerds. Animes eróticos,
ou hentais, estão em um canto isolado das lojas de histórias em quadrinhos,
assim como está a pornografia em uma locadora de filmes ou banca de revista. As
editoras de histórias em quadrinhos não são cegas a essa segregação. Elas
reconhecem que a maioria dos leitores de HQs, apesar das suas imaginações
vívidas, ainda preferem relacionamentos com pessoas de carne e osso.
Revistas em quadrinhos podem mostrar
beijos, abraços, e ocasionalmente alguma nudez, mas elas ainda estão no ramo de
salvar a Terra de aliens transmorfos, e não o de explorar os potenciais Kama
Sutras de monstros com tentáculos. No filme Barrados no Shopping, de 1995,
quando o personagem Brodie (Jason Lee) incomoda o quadrinista Stan Lee falando
a respeito das capacidades eróticas de vários super-heróis, isso se mostra
ridículo e patético. “Antigamente, nós não pensávamos nesse tipo de coisa”,
responde o ícone dos quadrinhos, cortando as perguntas. Mesmo hoje em dia,
apesar das ocasionais manchetes, isso ainda não acontece. Stan Lee diz depois a
um amigo de Brodie: “acho que ele precisa de ajuda. Ele parece ser bastante
obcecado com os órgãos sexuais dos super-heróis. Mas ele vai superar isso”.
A ironia é que, se há uma coisa em tudo
isso pela qual a indústria pode ser condenada, é por não retratar a diversidade
do mundo real. Por exemplo, o Lanterna Verde já abordou questões homossexuais
antes. Em 2000, a série introduziu Terry Berg, um assistente de 17 anos
abertamente gay de uma outra vesão do Lanterna Verde, Kyle Rayner.
Quando Berg foi espancado por uma gangue
de ódio, até Lex Luthor condenou o ataque e sua motivação, sugerindo que é
muito pior ser um agressor de gays no universo DC do que um supervilão que
frequentemente planeja a morte de milhões (dentre os quais, sem dúvida, também
estão alguns gays). A Marvel, enquanto isso, tem seus próprios exemplos. Entre
os convidados do casamento gay na capa da revista Astonishing X-Men número 52,
o super-herói Wolverine está em destaque. Vindo do norte do Canadá, e em quase
todos os aspectos um estereótipo do homem de fala grossa, peito cabeludo,
camisa regata, bebedor de cerveja, ele, no entanto, aceita tudo isso
perfeitamente bem. De alguma forma, suas garras de adamantium parecem mais
razoáveis. Mostrar perspectivas divergentes em heróis e vilãos, mesmo em nome
da diversidade e da credibilidade, é simplesmente fora de moda. Para os que estão
no ramo do super-heroismo, parece tudo uma covardice.
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do artigo do
LifeSiteNews: “The
latest trend in comic books—gay superheroes”
Fonte: www.juliosevero.com
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